Unir forças pela saúde oral
O Dia Mundial da Saúde Oral que hoje se assinala fica marcado pela recente publicação de um relatório segundo o qual somos o terceiro país da UE com mais necessidades dentárias não satisfeitas.
Portugal é, de acordo com os dados dos Censos de 2021, o país da União Europeia onde mais crianças estão privadas de cuidados de medicina dentária, apesar de o número de médicos dentistas exceder as médias internacionais de referência. No mesmo sentido, o Dia Mundial da Saúde Oral que hoje se assinala fica marcado pela recente publicação de um relatório conjunto da OCDE e do Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde, segundo o qual somos o terceiro país da UE com mais necessidades dentárias não satisfeitas.
Quase meio século depois do 25 de Abril e da criação das primeiras escolas superiores de Medicina Dentária, ambos os indicadores constituem a demonstração cabal de que a persistente ausência de políticas públicas de saúde oral acabou por perpetuar uma situação de injustiça e de flagrante desigualdade no acesso da população a este cuidado de saúde primário, essencial ao bem-estar físico e social e à prevenção de diversas doenças cardiovasculares ou metabólicas. No momento em que se inicia um novo ciclo político, urge, portanto, atalhar esta iniquidade com a maior brevidade possível, mantendo, desde logo, a recente aposta política e o anunciado investimento em saúde oral, seja concretizando a prometida criação da carreira de médico dentista no Sistema Nacional de Saúde, seja estimulando a prevenção e a adoção de hábitos saudáveis entre as crianças em idade escolar, seja ainda fazendo sair do papel a recente reformulação do cheque-dentista, assim combatendo o seu desperdício e transformando-o num instrumento efetivo de acesso a cuidados de medicina dentária.
A reversão dos medíocres indicadores de saúde oral em Portugal exige, pois, o estabelecimento de um consenso amplo, transversal e desassombrado em torno da necessidade de políticas públicas eficazes e que não permitam o desaproveitamento de recursos nem a discriminação ideológica entre os modelos público e privado, antes promovendo e reforçando a sua efetiva complementaridade. Mas a superação deste desafio deve apelar também à união, ao sentido ético e à convergência de todos os profissionais de saúde oral — dos médicos dentistas e dos estomatologistas, dos higienistas orais e dos técnicos de prótese — em prol daquele que deve constituir um objetivo comum para aqueles que trabalham nesta área: o bem-estar dos portugueses e o seu efetivo acesso a um cuidado de saúde essencial.
Fonte: https://www.publico.pt/2024/03/20/opiniao/opiniao/unir-forcas-saude-oral-2084213